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O UNIFORME



Até que enfim havia chegado seu novo uniforme; agora ele já era um tenente-coronel! Pensava consigo mesmo que seus cinquenta e cinco anos credenciavam-lhe a um pouco de vaidade na véspera do galarim militar. Pegou a farda nova pelo cabide e a dependurou no puxador da porta fechada do armário. Abriu a gaveta do passado e de lá retirou sua antiga e primeira vestimenta na caserna; ainda um reles tenente. Era assim naqueles tempos: chegava continente no quartel incontinente, orgulhoso da pátria, da vida, da carreira. “Passado augusto!” – pensou. Pendurou a farda velha na outra porta do armário; as duas perfiladas. Ele, de cueca, sentou-se pensativo e observador na poltrona que ficava na extremidade oposta do quarto. Enquanto mirava, absorto, os dois trajes, refletia. O país não era mais o mesmo; mudara de cor, de gente, de roupa, de moral. A farda velha tinha a tez desbotada de uma época de marcha dura. Tempo de farda, de pulso, de força. O uniforme recém-chegado era garboso, cheio de botões burocráticos e democráticos de um quartel digital e contido; os galões que enfeitavam os ombros se pareciam até com os das figuras manietadas de um vídeo game online. Olhou para si, para a cueca; precisava comprar uma nova para usar amanhã na parada do Sete de Setembro.
Por Djalma Jacobina Neto
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