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Campos de Morangos



Campos de morangos não são para sempre.O pensamento me veio de repente: morangos.É claro que eu precisava de morangos para o bolo.Sorri com a idéia, como se ir comprar morangos à noite fosse um prazer secreto, descoberto por mim.Quando me dei conta, estava me perfumando, escolhendo com cuidado o que vestir. Tudo para meu furtivo encontro noturno com os morangos.Saí ansiosa, sem saber exatamente se os encontraria. Se estariam maduros.Se me sorririam de volta. Se meus trocados bastariam para comprar o direito de tê-los.A caminhada pareceu mais longa do que o comum.O trajeto que eu sabia de cor, tantas vezes percorrido no mau humor matinal, no escuro no entanto parecia maravilhoso. Calçadas vazias, o vento frio, poder ouvir meus próprios passos: toda a impossibilidade da manhã floresceu para mim de noite.Tudo culpa dos morangos.As luzes do supermercado pareceram mais brilhantes do que o habitual.A noite exerce poder até mesmo ali: pessoas fazendo compras tranqüilamente; maridos sozinhos entre as prateleiras; mulheres pacientes na eterna pesquisa de preços.Nenhuma criança, nenhum engarrafamento de carrinhos.Só outros adeptos do prazer que eu acabava de descobrir, escolhendo devagar o que levar para casa.Eu no entanto não precisava escolher - logo vi meus morangos. Bonitos, vermelhos - a embalagem plástica criminosa, escondendo o cheiro deles de mim.As pessoas passavam, alheias aquela beleza.Encantadas, talvez, por uma lata brilhante de leite em pó. Ou um mamão.Um iogurte, um salame, desinfetante?Percebi, tranquila, que aquela não seria minha última ida noturna ao supermercado. São tantos romances possíveis. Essa era minha noite de morangos. Mas amanhã, quem sabe.Levei satisfeita meus morangos para casa. Sabia - antes mesmo de abrir a embalagem - que os maduros, vermelhos, estavam por cima para esconder os pequenos defeituosos, verdes, murchos. Reais.Um pouco triste, cortei todos em pedaços tão pequenos que ninguém jamais desconfiaria da imperfeição dos meus morangos.Mas a paixão é efêmera:abri o armário e ri quando percebi.Agora eu precisava era de açucar.


Por Marina Brasileiro Sant' Ana.
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